Essa semana assisti Foi apenas um sonho, filme de 2008. Achei-o bem profundo e estava refletindo nele quando fui procurar alguma análise e olha só onde vou achar, no meu site favorito, Scream & Yell, do gente fina Marcelo Costa. O cara analisou o filme com exatidão, disse tudo o que eu queria dizer e escreve melhor do que eu.
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Enquanto buscamos redenções e motivações em lugares físicos ou outros “paraísos artificiais” (fugas?), culpando a sociedade, a rotina e toda a hipocrisia reinante, mal percebemos que tudo isso parte (ou deveria partir) de dentro de nós mesmos. A revolução tem que partir internamente primeiro. E é preciso muita coragem para isso, muita coragem para mudar, para trocar o certo pelo incerto, mesmo que esse "certo" esteja todo errado. Complicado? Leia o texto que fica mais claro.
Por Marcelo Costa
Qual o motivo de estarmos vivos? Qual o sentido em acordarmos todos os dias? Duas perguntas profundas que existem desde sempre e seguem sem resposta definitiva, afinal o máximo que conseguimos em milhares de anos foram um belo punhado de teses filosóficas e uma centena de religiões que, no fundo (bem lá no fundo), dizem a mesma coisa. Continuamos tateando em busca de alguma razão que de algum sentido a essa coisa toda que alguns chamam viver (e outros apelidam de inferno). Não é fácil.
Viver é uma tarefa árdua a qual somos submetidos diariamente tendo algumas suspeitas não provadas cientificamente (o que mais complica que explica) do motivo das coisas serem assim, e não assado, e de agirmos de modo x e não y. Daí escolhemos de que lado vamos ficar, agir, pensar e viver. E sentados sobre nosso próprio juízo julgamos todo o resto. É um trabalho sujo, mas alguém tem que faze-lô, afinal não estamos rodeados apenas por coisas belas (ainda bem) e o paraíso, como muitos desenham, deve ser um lugar pra lá de insuportável.
O diretor anglo-português Sam Mendes parece interessado nessa função de juiz, e já havia mostrado que tem jeito pra coisa no brilhante “Beleza Americana”, uma dura crítica a sociedade norte-americana agraciada com cinco Oscars (incluindo os cortejados Melhor Filme, Diretor, Ator e Roteiro Original). Com “Foi Apenas Um Sonho”, o diretor retorna ao tema, porém (quase) deixa de lado o cinismo apoiando-se na simplicidade de uma história que diz mais sobre o espectador do que sobre o próprio filme em si.
Logo na primeira cena do longa temos um encontro: April (Kate Winslet em grande atuação) conhece Frank (um Leonardo DiCaprio bastante correto). Ela tem sonhos de ser atriz. Ele é estivador, mas está pronto para subir na escala social, pois vai assumir um emprego de caixa em uma loja. Antes do beijo inevitável temos o corte e nos vemos alguns anos depois. April está no palco de uma peça ruim, e Frank parece não saber lidar com o fracasso da mulher, e o resultado é uma longa briga que coloca o mundo em seu devido lugar.
As peças começam a se encaixar no tabuleiro (dois filhos não planejados, uma casa bonitinha atolada em meio a um “cemitério social” de mortos-vivos, um emprego que não preenche os anseios da alma, uma vida que deveria ter seguido numa estrada, mas estacionou em um lugar qualquer entre o vazio e a falta de esperança) e conforme se juntam exibem o desenho cruel de uma classe média norte-americana atolada na monotonia, na apatia e no conformismo, uma série de adjetivos que ainda freqüentam a ordem do dia (seja nos Estados Unidos, seja no Congo, seja no Brasil).
April percebe que está sendo consumida pelo mal-estar da vida sem sentido, e inventa – e se agarra a – uma viagem para tentar sacudir a vida do casal. Frank reluta em um primeiro momento, aceita no segundo, e acaba por fim escolhendo o caminho mais simples na terceira parte. O casal se enfrenta vorazmente em todas essas passagens, mas não consegue se entender. Diálogos são travados, silêncios são ouvidos, mas o único som que persiste é o do desespero da vida que segue sem sentido em direção a vala do esquecimento. Já cantava Neil Young: “melhor queimar do que apagar aos poucos”, mas quem impede alguém de sonhar além de si mesmo?
Não há nenhuma alegria verdadeira em “Foi Apenas Um Sonho”, e por isso o filme tem verniz redentor (ou revolucionário, como queira) e requintes de obrigatório. Apesar da história se passar nos anos 50 (o livro de Richard Yates, que deu origem ao roteiro, é de 1961) é fácil perceber que a sedução do dinheiro (que troca sonhos por papel moeda), a falta de planejamento familiar e o desconhecimento que os próprios casais têm de si próprios são temas tão atuais e universais quanto na época em que foram escritos. Vale tanto quanto uma sessão de terapia e meia dúzia de cervejas e desabafos com o melhor amigo (a) no bar.
A Academia ignorou solenemente o filme (apesar do prêmio para Kate no Globo de Ouro), e não que ele seja sensacional, só brilha timidamente em um período de franca decadência da sétima arte. Foram três indicações ao Oscar nas categorias Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte e Melhor Ator Coadjuvante para Michael Shannon, que interpreta (com generosas doses de cinismo) um louco que enxerga mais coisas que a média comum observa (quem disse que em terra de cego, quem tem um olho é rei, precisa ver o outro lado do ditado popular). Pena que o Oscar de coadjuvante já tenha dono, que a idiota tradução nacional do título mate boa parte do drama do roteiro e que Winslet tenha sido indicada apenas por “O Leitor”, e não por sua belíssima atuação aqui. “Foi Apenas Um Sonho” merecia melhor sorte… como todos nós.
Ps. A tradução do título original, “Revolutionary Road”, é a pior (no sentido de entregar a história) desde… “Cidade dos Sonhos”, casualmente outro filme com nome de rua.
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E visitem, favoritem o Scream & Yell. O melhor site sobre Cultura Pop (e outras coisas) do Brasil. Tem textos antológicos e algumas "discussões" acaloradas e inteligentes. E para quem acha que a música atual (brasileira ou gringa) anda mal das pernas, tem centenas e centenas de dicas por lá. Tem muita coisa em curso, em todo canto, é só procurar.
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Por fim, algumas perguntinhas pertinentes:
Sua vida atual é a que você sonhou há 10, 20 anos atrás?
Aquela criança e adolescente conheceu e conquistou o que almejou?
Perdeu o bonde? Onde? Quando? Porquê?
Dá para mudar? chacoalhar tudo?
3 comentários:
Vivo repetindo isso :"A revolução tem que partir internamente primeiro."
Mudar certos hábitos, "chacoalhar" a vida é algo dificil para maioria das pessoas, todas vivem no "e se?"..
Chega uma altura da vida que as pessoas precisam se (re)analisar e ver o que não está bem, já bem como dizia Kant: O exterior é o interior.
Se não fizermos uma revolução interna, não adianta nada tentar mudar o exterior, a vida vai seguir adiante da mesma forma, com os mesmos defeitos (um modo grosseiro e talvez não tão sabio de definir alguma coisa).
Quando criança temos sonhos, talvez sejam os sonhos mais puros e mais íntimos, sonhos estes que perdemos com o tempo, na adolescencia já começamos nos deparar com os problemas do futuro e começamos a perder o bonde e por fim são raras as pessoas que conseguem dizer com a mais pura palavra e sentimento que são exatamente o que almeijavam ser há anos atrás.
O ser humano vive em constante insatisfação consigo mesmo e para projetar o problema em outras coisas, simplesmente arranjamos desculpas, claro, somos seres humanos não passíveis de defeitos, a mais pura criação Divina (ironia).
Procuramos de cima abaixo e nunca encontramos o que esta diante de nossos olhos.
Vivemos em busca e quando estamos para a morte que, algumas vezes, descobrimos o que estavamos buscando : Amor incondicional e felicidade plena.
Viemos no mundo pra quê ? Sofrer, lamentar, chorar ? Acredito que não.
A resposta está no interior de cada um, basta abrir os olhos( talvez o terceiro olho ).
Ter nunca vai ser.
Bons ventos nos atinja neste percurso de auto conhecimento.
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Filme otimo...Ter uma casa grande com janelas de molduras branca um bom carro na garagem, isso é felicidade???
Quando se tem um problema não adiante mudar-se, pois o interior nos persegue...
falo e disse a Camila.
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