terça-feira, 1 de junho de 2021

Soundtrack for unlikely days by Sam S/A

Soundtrack for unlikely days by Sam S/A

terça-feira, 2 de junho de 2020

2020


Quem diria...

Estamos em 2020...

Pandemia Mundial...

e

bolsonaro presidente do brasil...

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Seguimos NA LUTA!

terça-feira, 12 de março de 2019

observação

" O BARULHO DO VELHO
           IMPOSSIBILITA
       ESCUTAR O NOVO."

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Chicken Litte - Como desestabilizar uma nação 1943



Walt Disney

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=5Xgz0ieFyQk


terça-feira, 3 de novembro de 2015

O homem de cabeça de papelão


João do Rio

No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social.

O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os habitantes afluíam todos para a capital, composta de praças, ruas, jardins e avenidas, e tomavam todos os lugares e todas as possibilidades da vida dos que, por desventura, eram da capital. De modo que estes eram mendigos e parasitas, únicos meios de vida sem concorrência, isso mesmo com muitas restrições quanto ao parasitismo. Os prédios da capital, no centro elevavam aos ares alguns andares e a fortuna dos proprietários, nos subúrbios não passavam de um andar sem que por isso não enriquecessem os proprietários também. Havia milhares de automóveis à disparada pelas artérias matando gente para matar o tempo, cabarets fatigados, jornais, tramways, partidos nacionalistas, ausência de conservadores, a Bolsa, o Governo, a Moda, e um aborrecimento integral. Enfim tudo quanto a cidade de fantasia pode almejar para ser igual a uma grande cidade com pretensões da América. E o povo que a habitava julgava-se, além de inteligente, possuidor de imenso bom senso. Bom senso! Se não fosse a capital do País do Sol, a cidade seria a capital do Bom Senso!

Precisamente por isso, Antenor, apesar de não ter importância alguma, era exceção mal vista. Esse rapaz, filho de boa família (tão boa que até tinha sentimentos), agira sempre em desacordo com a norma dos seus concidadãos.

Desde menino, a sua respeitável progenitora descobriu-lhe um defeito horrível: Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira. Alarmada, a digna senhora pensou em tomar providências. Foi-lhe impossível. Antenor era diverso no modo de comer, na maneira de vestir, no jeito de andar, na expressão com que se dirigia aos outros. Enquanto usara calções, os amigos da família consideravam-no um enfant terrible, porque no País do Sol todos falavam francês com convicção, mesmo falando mal. Rapaz, entretanto, Antenor tornou-se alarmante. Entre outras coisas, Antenor pensava livremente por conta própria. Assim, a família via chegar Antenor como a própria revolução; os mestres indignavam-se porque ele aprendia ao contrario do que ensinavam; os amigos odiavam-no; os transeuntes, vendo-o passar, sorriam.

Uma só coisa descobriu a mãe de Antenor para não ser forçada a mandá-lo embora: Antenor nada do que fazia, fazia por mal. Ao contrário. Era escandalosamente, incompreensivelmente bom. Aliás, só para ela, para os olhos maternos. Porque quando Antenor resolveu arranjar trabalho para os mendigos e corria a bengala os parasitas na rua, ficou provado que Antenor era apenas doido furioso. Não só para as vítimas da sua bondade como para a esclarecida inteligência dos delegados de polícia a quem teve de explicar a sua caridade.

Com o fim de convencer Antenor de que devia seguir os tramitas legais de um jovem solar, isto é: ser bacharel e depois empregado público nacionalista, deixando à atividade da canalha estrangeira o resto, os interesses congregados da família em nome dos princípios organizaram vários meetings como aqueles que se fazem na inexistente democracia americana para provar que a chave abre portas e a faca serve para cortar o que é nosso para nós e o que é dos outros também para nós. Antenor, diante da evidência, negou-se.

— Ouça! bradava o tio. Bacharel é o princípio de tudo. Não estude. Pouco importa! Mas seja bacharel! Bacharel você tem tudo nas mãos. Ao lado de um político-chefe, sabendo lisonjear, é a ascensão: deputado, ministro.

— Mas não quero ser nada disso.

— Então quer ser vagabundo?

— Quero trabalhar.

— Vem dar na mesma coisa. Vagabundo é um sujeito a quem faltam três coisas: dinheiro, prestígio e posição. Desde que você não as tem, mesmo trabalhando — é vagabundo.

— Eu não acho.

— É pior. É um tipo sem bom senso. É bolchevique. Depois, trabalhar para os outros é uma ilusão. Você está inteiramente doido.

Antenor foi trabalhar, entretanto. E teve uma grande dificuldade para trabalhar. Pode-se dizer que a originalidade da sua vida era trabalhar para trabalhar. Acedendo ao pedido da respeitável senhora que era mãe de Antenor, Antenor passeou a sua má cabeça por várias casas de comércio, várias empresas industriais. Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua. Por que mandavam embora Antenor? Ele não tinha exigências, era honesto como a água, trabalhador, sincero, verdadeiro, cheio de idéias. Até alegre — qualidade raríssima no país onde o sol, a cerveja e a inveja faziam batalhões de biliosos tristes. Mas companheiros e patrões prevenidos, se a princípio declinavam hostilidades, dentro em pouco não o aturavam. Quando um companheiro não atura o outro, intriga-o. Quando um patrão não atura o empregado, despede-o. É a norma do País do Sol. Com Antenor depois de despedido, companheiros e patrões ainda por cima tomavam-lhe birra. Por que? É tão difícil saber a verdadeira razão por que um homem não suporta outro homem!

Um dos seus ex-companheiros explicou certa vez:

— É doido. Tem a mania de fazer mais que os outros. Estraga a norma do serviço e acaba não sendo tolerado. Mau companheiro. E depois com ares...

O patrão do último estabelecimento de que saíra o rapaz respondeu à mãe de Antenor:

— A perigosa mania de seu filho é por em prática idéias que julga próprias.

— Prejudicou-lhe, Sr. Praxedes?

Não. Mas podia prejudicar. Sempre altera o bom senso. Depois, mesmo que seu filho fosse águia, quem manda na minha casa sou eu.

No País do Sol o comércio ë uma maçonaria. Antenor, com fama de perigoso, insuportável, desobediente, não pôde em breve obter emprego algum. Os patrões que mais tinham lucrado com as suas idéias eram os que mais falavam. Os companheiros que mais o haviam aproveitado tinham-lhe raiva. E se Antenor sentia a triste experiência do erro econômico no trabalho sem a norma, a praxe, no convívio social compreendia o desastre da verdade. Não o toleravam. Era-lhe impossível ter amigos, por muito tempo, porque esses só o eram enquanto. não o tinham explorado.

Antenor ria. Antenor tinha saúde. Todas aquelas desditas eram para ele brincadeira. Estava convencido de estar com a razão, de vencer. Mas, a razão sua, sem interesse chocava-se à razão dos outros ou com interesses ou presa à sugestão dos alheios. Ele via os erros, as hipocrisias, as vaidades, e dizia o que via. Ele ia fazer o bem, mas mostrava o que ia fazer. Como tolerar tal miserável? Antenor tentou tudo, juvenilmente, na cidade. A digníssima sua progenitora desculpava-o ainda.

— É doido, mas bom.

Os parentes, porém, não o cumprimentavam mais. Antenor exercera o comércio, a indústria, o professorado, o proletariado. Ensinara geografia num colégio, de onde foi expulso pelo diretor; estivera numa fábrica de tecidos, forçado a retirar-se pelos operários e pelos patrões; oscilara entre revisor de jornal e condutor de bonde. Em todas as profissões vira os círculos estreitos das classes, a defesa hostil dos outros homens, o ódio com que o repeliam, porque ele pensava, sentia, dizia outra coisa diversa.

— Mas, Deus, eu sou honesto, bom, inteligente, incapaz de fazer mal...

— É da tua má cabeça, meu filho.

— Qual?

— A tua cabeça não regula.

— Quem sabe?

Antenor começava a pensar na sua má cabeça, quando o seu coração apaixonou-se. Era uma rapariga chamada Maria Antônia, filha da nova lavadeira de sua mãe. Antenor achava perfeitamente justo casar com a Maria Antônia. Todos viram nisso mais uma prova do desarranjo cerebral de Antenor. Apenas, com pasmo geral, a resposta de Maria Antônia foi condicional.

— Só caso se o senhor tomar juízo.

— Mas que chama você juízo?

— Ser como os mais.

— Então você gosta de mim?

— E por isso é que só caso depois.

Como tomar juízo? Como regular a cabeça? O amor leva aos maiores desatinos. Antenor pensava em arranjar a má cabeça, estava convencido.

Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma "relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão". Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo.

— Traz algum relógio?

— Trago a minha cabeça.

— Ah! Desarranjada?

— Dizem-no, pelo menos.

— Em todo o caso, há tempo?

— Desde que nasci.

— Talvez imprevisão na montagem das peças. Não lhe posso dizer nada sem observação de trinta dias e a desmontagem geral. As cabeças como os relógios para regular bem...

Antenor atalhou:

— E o senhor fica com a minha cabeça?

— Se a deixar.

— Pois aqui a tem. Conserte-a. O diabo é que eu não posso andar sem cabeça...

— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe uma de papelão.

— Regula?

— É de papelão! explicou o honesto negociante. Antenor recebeu o número de sua cabeça, enfiou a de papelão, e saiu para a rua.

Dois meses depois, Antenor tinha uma porção de amigos, jogava o pôquer com o Ministro da Agricultura, ganhava uma pequena fortuna vendendo feijão bichado para os exércitos aliados. A respeitável mãe de Antenor via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porem, estimavam-no, e os companheiros tinham garbo em recordar o tempo em que Antenor era maluco.

Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Maria Antônia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. Outras Marias ricas, de posição, eram de opinião da primeira Maria. Ele só tinha de escolher. No centro operário, a sua fama crescia, querido dos patrões burgueses e dos operários irmãos dos spartakistas da Alemanha. Foi eleito deputado por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — a quem atacou logo, pois para a futura eleição o presidente seria outro. A sua ascensão só podia ser comparada à dos balões. Antenor esquecia o passado, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente.

Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País do Sol estavam na dificuldade de concordar no nome do novo senador, que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Antenor era cotado. Então Antenor passeava de automóvel pelas ruas centrais, para tomar pulso à opinião, quando os seus olhos deram na tabuleta do relojoeiro e lhe veio a memória.

— Bolas! E eu que esqueci! A minha cabeça está ali há tempo... Que acharia o relojoeiro? É capaz de tê-la vendido para o interior. Não posso ficar toda vida com uma cabeça de papelão!

Saltou. Entrou na casa do negociante. Era o mesmo que o servira.

— Há tempos deixei aqui uma cabeça.

— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.

— Ah! fez Antenor.

— Tem-se dado bem com a de papelão? — Assim...

— As cabeças de papelão não são más de todo. Fabricações por séries. Vendem-se muito.

— Mas a minha cabeça?

— Vou buscá-la.

Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.

— Consertou-a?

— Não.

— Então, desarranjo grande?

O homem recuou.

— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das idéias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.

Antenor ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.

— Faça o obséquio de embrulhá-la.

— Não a coloca?

— Não.

— V.EX. faz bem. Quem possui uma cabeça assim não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.

Mas Antenor era prudente, respeitador da harmonia social.

— Diga-me cá. Mesmo parada em casa, sem corda, numa redoma, talvez prejudique.

— Qual! V.EX. terá a primeira cabeça.

Antenor ficou seco.

— Pode ser que V., profissionalmente, tenha razão. Mas, para mim, a verdade é a dos outros, que sempre a julgaram desarranjada e não regulando bem. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique V. com ela. Eu continuo com a de papelão.

E, em vez de viver no País do Sol um rapaz chamado Antenor, que não conseguia ser nada tendo a cabeça mais admirável — um dos elementos mais ilustres do País do Sol foi Antenor, que conseguiu tudo com uma cabeça de papelão.




João do Rio foi o pseudônimo mais constante de João Paulo Emílio Coelho Barreto, escritor e jornalista carioca, que também usou como disfarce os nomes de Godofredo de Alencar, José Antônio José, Joe, Claude, etc., nada ou quase nada escrevendo e publicando sob o seu próprio nome. Foi redator de jornais importantes, como "O País" e "Gazeta de Notícias", fundando depois um diário que dirigiu até o dia de sua morte, "A Pátria". Contista romancista, autor teatral (condição em que exerceu a presidência da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, tradutor de Oscar Wilde, foi membro da Academia Brasileira de Letras, eleito na vaga de Guimarães Passos. Entre outros livros deixou "Dentro da Noite", "A Mulher e os Espelhos", "Crônicas e Frases de Godofredo de Alencar", "A Alma Encantadora das Ruas", "Vida Vertiginosa", "Os Dias Passam", "As religiões no Rio" e "Rosário da Ilusão", que contém como primeiro conto a admirável sátira "O homem da cabeça de papelão". Nascido no Rio de Janeiro a 05 de agosto de 1881, faleceu repentinamente na mesma cidade a 23 de junho de 1921.

O texto acima foi extraído do livro "Antologia de Humorismo e Sátira", organizada por R. Magalhães Júnior, Editora Civilização Brasileira — Rio de Janeiro, 1957, pág. 196.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A Ilha - Uma história contada em 2035.

A Ilha

Havia uma ilha.
Nessa ilha, todos gostavam muito de comer banana. Principalmente das dos tipos Prata e Nanica. Muitos não entendiam como poderia se gostar do outro tipo. - A Prata é melhor! - Não, a Nanica é a melhor! - Chegavam a bradar nas ruas, nos bares, estádios, shows, jornais, internet e até igrejas! Haviam muitos que gostavam também da banana Maçã e alguns que gostavam da banana da Terra e já outros que só comiam da banana Ouro. Mas a Prata e a Nanica eram as mais consumidas.
Em todo canto da ilha se discutia sobre qual a melhor banana. 
As pessoas se dividiam. Deviam estar ou de um lado ou do outro. Sem meio termos.
E a maioria das pessoas tinham trabalhos relacionados a bananas. Tudo girava em torno delas: Produtores de banana, colhedores de bananas, vendedores de bananas, transportadores de banana. Gente que fazia propagandas de bananas, gente que ensinava como se vender bananas, gente que contava a história da banana, gente que desenhava bananas. Logística, Administração, Contabilidade, Marketing. Tudo em torno da banana. Era uma luta diária para se vender, comprar e comer da melhor banana. Estavam nas revistas, jornais, T.V, internet e rádios. Especialistas e comentaristas de bananas por toda a parte.
Banana frita, banana com mel, banana split. Doce de banana, torta de banana, caramelizada, purê, rabanada, enfim, todas de todos os jeitos. Nas refeições ou nas sobremesas.
A maior parte do mercado eram, claro, da Prata e Nanica, que usavam todos os artifícios para se manterem como maioria. E lutavam entre si para dominarem a totalidade. Maçãs, Ouro ou da Terra iam na cola. Todas coadjuvantes.
Para comprar sua banana favorita, muitas vezes as pessoas trabalhavam para empresas da banana concorrente, vejam só. A pessoa podia trabalhar no transporte de bananas Prata para ter dinheiro para comprar a banana da Terra ou a Maçã. Ou para um dia chegar a comer só da Ouro. E não só trabalhavam diretamente com bananas, mas indiretamente também. Desenvolviam tecnologia para acompanhar as vendas de bananas, levantavam recursos humanos para trabalharem com bananas, onde só os mais preparados eram selecionados. Era competitivo. Formavam conselhos e fiscalizavam tudo relacionado a bananas.
A economia, a política, as organizações e até os esportes na ilha giravam em torno das bananas, já que até estádios eram construidos financiados por poderosos empresários do ramo bananício.
 
Os bancos emprestavam dinheiro para quem queria comprar bananas para a vida toda. garantir o futuro.

A Ilha era uma loucura. Muita competição, corrupção e disputas afim de manter-se a supremacia e o monopólio da banana.
Se diziam uma democracia, mas para quem olhava de fora, ou não participava, era a república da banana.
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No meio de tudo isso e apesar de serem a minoria e estarem convivendo na mesma ilha, havia pessoas que conheciam e comiam muitas outras frutas. Morangos, Uvas, Mexericas, Mangas, Laranjas, Limões e Acerolas. Jabuticabas, Kiwis, Carambolas, Caquis, Mamões, Maracujás, Pêras, Maçãs, Melões, Pêssegos, Melancias, Abacaxis, Pitangas e até Cambucis, entre centenas de outras.
Essas pessoas tentavam dizer e mostrar às outras que haviam essas outras frutas deliciosas. Milhares de sabores diferentes. Azedos e amargos, tantos doces e néctares diferentes, cítricas ou polpudas. Cores e nutrientes diferentes. Trocavam frutas entre si, conversavam e estudavam todas as frutas.

Mas essas pessoas eram pouco ouvidas. A maioria da população ainda estava a comer e defender essa ou aquela banana. Nas escolas, estudos de bananas. E elas realmente eram as maiores geradores de empregos. Alguns professores até falavam das outras frutas, mas a Cultura da banana estava fortemente enraizada na população da ilha. 
Nascia-se, crescia-se e perpetuava-se a cultura da banana.

À margem de tudo isso, viviam suas vidas comendo sua grande diversificação de frutas diferentes, aprendendo sobre outras, ampliando seu cardápio e sempre mostrando a todos que quisessem experimentar.
Podia-se falar de outras frutas e viver a vida comendo e trabalhando com elas. Criando receitas diversas, pessoas viajavam para outras ilhas procurando por outras frutas, por novas experiências e sabores. Quem gostava de morangos podia se dedicar a trabalhar com eles. Deliciosas e coloridas saladas de frutas eram criadas, numa mistura enriquecedora de receitas.

Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que um governo autoritário baniu a liberdade de se comer outras frutas. Era a ditadura da banana. E foi difícil para quem gostava de outras frutas. Pessoas eram presas, torturadas e até mortas se pegas consumindo ou até falando sobre outras frutas.
Aos poucos, toda essa bagunça econômica e cultural da banana foi-se desgastando. Devido a tantas brigas pela supremacia da banana, a busca pelo controle total das do tipo Prata e Nanica e as da Terra, Maçã e Ouro tentando entrar na onda. Os preços desequilibraram, elevando-se absurdamente. Inflações e impostos. Empresas de banana deviam aos bancos, fechavam e geravam desempregos recordes. Com o desemprego e o alto preço das bananas, as pessoas não conseguiam comprá-las. Falências aos montes. Represas secavam. Todos os olhos eram voltados para as bananas. Nunca para outras frutas nem o meio ambiente, a terra e suas fontes de energia. Por fim, o colapso foi inevitável. Pânico.
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Com isso, as pessoas foram forçadas a encontrarem saídas e soluções. Começaram aos poucos a perceber as outras frutas. Seus sabores e infinitos benefícios. 
Logo, começaram a plantar em seus quintais as mais variadas espécies e transformar suas garagens em quitandas. Quem plantava e vendia uvas comprava abacates ou mangas dos vizinhos. Quem plantava goiaba também comia peras e melancias. Não precisavam mais atravessar a cidade para trabalhar com bananas. Nem para comprá-las. Não havia intermediários. Nem donos de grandes monopólios de plantações. O trânsito diminuiu, o tempo antes gasto com ele e outras atividades bananícias agora eram usados para estudos de outras frutas, para artes, para lazer, viagens. Um mundo de descobertas se abria à frente de todos. De oportunidade, igualdade e liberdade de recomeçar.
Claro, ainda haviam os que insistiram na banana por um tempo. Reconstruir seus impérios. Depois perceberam que era uma guerra em vão, pois a ilha agora já compartilhava de todas as frutas. Era necessário recomeçar, necessário reeducar-se. 
Outros poucos partiram para outras ilhas, tentar reinar onde a banana ainda reinava.
A saúde de todos se fortificou, assim como o coletivismo. Havia trabalho para todos, já que haviam centenas de frutas diferentes e muitos tipos diferentes entre elas. Muitas formas de manuseá-las, de experimentar receitas.
O passado parecia remoto agora. História. Mas olhando para trás, incrível como não percebíamos o que estavam fazendo. Uma insana obsessão por bananas enquanto um imenso pomar multi-colorido, multi-sensitivo estava bem debaixo dos nossos pés.

Agora na ilha, a cada mês festividades com as frutas da época;
Há excursões para conhecer frutas exóticas de outras terras;
Há pomares coletivos por todo lugar;
A água é cuidada com carinho, pois é a principal fonte de alimento de todas as frutas; 
Os restos das frutas são usados como combustível, eternamente renovável e limpo. E como alimento para outros animais.
Toda a ilha tornou-se muito fértil, já que as cascas das frutas, ao morrerem e apodrecerem se tornam também os próprios adubos e alimentos de suas terras e árvores. 
A morte alimentando a vida num ciclo sem fim.
Pois muitas vezes, para algo nascer, outra tem que morrer. Seja uma fruta ou uma consciência.
A fauna e a flora resplandeceram. 
E há cores brilhantes e músicas ecoando por toda a ilha.
Smsj
 
 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Tá na média