terça-feira, 24 de setembro de 2013

Peixe Grande, Amelie e o tamanho do mundo.


Que tamanho de peixe seremos? O que nos "fisgará" e nos fará parar de crescer? A fraqueza e entrega ou a arrogância e presunção?

Outro dia reassisti Peixe Grande, do Tim Burton. E também O Fabuloso destino de Amelie Poulain. E é bom rever filmes que faz tempo que vimos com outra visão e mais bagagem da vida, outros olhares e sei lá, entendimento. Não pretendo resenhar os filmes aqui, nem é o caso. Mas sim, refletir sobre alguns aspectos e mensagens que eles passam.

Em Peixe Grande, acho que até mais do que contar a história de um contador de histórias, onde ele transforma os fatos "normais" em incríveis fábulas deixando a vida muito mais colorida e emocionante, também nos faz pensar em que tamanho de peixe queremos ser. No filme, o protagonista descobre desde muito cedo, que sua ambição é muito maior do que sua pequena cidade pode lhe oferecer, e lendo um livro científico, descobre que alguns peixes crescem de acordo com o tamanho do lago, ou aquário em que vive. (Há controvérsias se isso é verdade ou lenda). Verdade ou não, a analogia cabe maravilhosamente bem na nossa vida. Já que muito do que somos tem influência direta do meio em que crescemos e vivemos, fato. Desde a tenra infância até a vida adulta, as amarras das escolas, amigos, pais e sociedade limitam nossos sonhos e capacidades. Parece que já nascemos com carimbo de até onde podemos chegar. Que nosso intelecto e instintos, infinitos de possibilidades, uma hora estagna e não mais cresce. Criamos medos e com isso, também refúgios. Ambos das mais variadas formas possíveis. Medo de fracassar, medo do que os outros vão pensar, medo de mudar, de não se enquadrar, não ser aceito, medo de perder dinheiro, de não ganhar dinheiro, de perder amigos e em contra partida, os refúgios podem ser desde religiões (instituições), times de futebol, músicas e bandas, drogas, álcool, posses, trabalho (no sentido workaholic), obessões e compulsões em geral. Admiramos nos outros o que não tivemos coragem de fazer nós mesmos?
... 

Já em Amelie, a história mostra todos ao seu redor como que sonâmbulos, cegos e automáticos, enquanto ela vê a vida (dos outros), estando de fora, com maior clareza. Muito representativo quando todo mundo comenta uma tragédia/manchete (no caso, a morte de Lady Di) com tanto luto e entusiasmo quando isso está tão distante de suas vidas e as suas tragédias pessoais estão bem diante do espelho. Muito bonito quando ela, assistindo a um programa qualquer na T.V, tem um insight e desperta para sua própria vida. Se vê personagem dela e até de um quadro. Agora ela precisa de uma dose de coragem para encarar a si mesma.

E nós? Temos coragem de enfrentar nossos medos e experimentar nossos limites? Desconfio que não quebraremos essa corda nunca, pois ela é fantasticamente elástica.
Quando a gente começa a descobrir um pouco de nós mesmos, fazendo o que gostamos e brincando com nossas limitações, avançando que seja centímetro por centímetro, cada um no seu tempo, percebemos que não precisamos de ídolos. Que nossos heróis também são de carne e osso e também erraram muito para conseguir algo maior. Claro que podemos sofrer influências e nos inspirarmos uns nos outros, isso é muito bacana e uma das coisas mais bonitas de um ser humano com outro. Mas que o filtro esteja regulado e balanceado. Que a inspiração não vire obcessão cega.


Mudando de assunto, ou não...

Toco violão desde sei lá, meus 17 anos. Autodidata meio preguiçoso. Meu filho toca desde os 12. Agora ele tem 16 e é muito melhor do eu era, com 25. Aprender cedo faz muita diferença! Dei pequenas dicas à ele no começo, claro, e o rapaz tomou gosto e tem um ouvido incrível, além de boa habilidade com o instrumento. Estamos melhorando e descobrindo mais coisas sobre música juntos. Isso me revigora. Mas já sei que ele vai me passar fácil, o que acho explêndido.
Temos tocado de vez em quando num pequeno e aconchegante Pub na Zona Leste de São Paulo e está sendo extremamente recompensador. Tratamos o repertório com muito carinho e atenção e além de nos divertimos muito, humildemente podemos ajudar as pessoas a abrir um pouco o leque de opções. De emoções, de sons diferentes. Não é tão radical assim, mas num barzinho comum, onde nos famigerados acústicos a lei é Legião Urbana, Cassia Eller, aquela do Man at work, aquela do Red Hot, aquela do Cranberries, Wish you were here, tocar ao vivo coisas como Manic Street Preachers, Ben Folds, Cocteaus Twins, lados B do Cure...Arcade Fire, Morrissey (I have forgiven Jesus), The Sundays, Supergrass sem ser Alright, Echo and the Bunnymen (Rust, Back of love, My Kingdom...), REM sem ser Losing my Religion, Gram, Ludov, Volver, Pullovers, etc... é um desafio e experiência deliciosos.

E vamos todos nós nos desenvolvendo no nosso aquário e se um dia ele ficar pequeno demais, pular pra outro. Sem nunca esquecer de onde viemos.
É engraçado, pois muitas pessoas torcem o nariz e pedem sempre mais do mesmo, o que é normal, mas não deveria ser. Será que não nos achamos capazes de crescer e conhecer coisas novas? Nós mesmos nos limitamos e teimamos e temos orgulho do nosso gosto gasto, sei lá, mastigar o mesmo chiclete a vida inteira? Perdemos a curiosidade e o sabor incrível da novidade? Será que temos tanto desses orgulhos bestas só para encobrir nossa baixa estima?
Por outro lado e mais peculiar ainda, é quando aparece algum chatão arrogante de plantão. Tocaram Soma, do Smashing Pumpkins? Bah, prefiro a Siva. Tocaram Heaven or Las Vegas? do Cocteau Twins? Duvido tocarem Lorelei.

Mas o gostoso é a recompensa. Já teve gente que tomou o primeiro contato com Ludov, Volver, Gram, Pullovers, Cure ou Arcade Fire pelas nossas singelas versões. Passaram a acompanhar esses artistas e correr atrás de conhecer mais. Enfim. Cada um dentro do seu aquário e fazendo o que convém e acredita, muitas vezes sem agradar nem gregos nem troianos.

De toda forma, no nosso aquário tem os que não sabem e querem aprender, tem os que não sabem e não querem saber, tem os que sabem algo e se acham superiores e não querem aprender nem passar o que sabem e tem os sabem algo e adoram passar esse algo pra frente. Acredito que esses são os que podem pular para um aquário maior ou quem sabe navegar em lagos e viajar em correntezas incertas de rios tortuosos, mas só eles vão ver o que é que tem lá adiante depois da curva ou nas profundezas do oceano.

Enfim, enfim, enfim...cada um faz o que está ao seu alcance. E que alcance o que tiver que alcançar. Sabendo que estamos todos num áquario, seja ele o mesmo ou diferente, e não num oceano. Ainda...


O mundo é simplesmente e exatamente do tamanho que o enxergamos.

1 comentários:

Charlotte Sometimes disse...

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