A Ilha
Havia uma ilha.
Nessa ilha, todos gostavam muito de comer banana. Principalmente das dos
tipos Prata e Nanica. Muitos não entendiam como poderia se gostar do outro
tipo. - A Prata é melhor! - Não, a Nanica é a melhor! - Chegavam a bradar nas
ruas, nos bares, estádios, shows, jornais, internet e até igrejas! Haviam
muitos que gostavam também da banana Maçã e alguns que gostavam da
banana da Terra e já outros que só comiam da banana Ouro. Mas a Prata e a
Nanica eram as mais consumidas.
Em todo canto da ilha se discutia sobre qual a melhor banana.
As pessoas se dividiam. Deviam estar ou de um lado ou do outro. Sem meio termos.
E
a maioria das pessoas tinham trabalhos relacionados a bananas. Tudo
girava em torno delas: Produtores de banana, colhedores de bananas,
vendedores
de bananas, transportadores de banana. Gente que fazia propagandas de
bananas,
gente que ensinava como se vender bananas, gente que contava a história
da banana,
gente que desenhava bananas. Logística, Administração, Contabilidade,
Marketing. Tudo em torno da banana. Era uma luta diária para se vender,
comprar e
comer da melhor banana. Estavam nas revistas, jornais, T.V, internet e
rádios. Especialistas e comentaristas de bananas por toda a parte.
Banana frita, banana com mel, banana split. Doce de banana, torta de
banana, caramelizada, purê, rabanada, enfim, todas de todos os jeitos. Nas refeições ou nas sobremesas.
A maior parte do mercado eram, claro, da Prata e Nanica, que usavam todos os
artifícios para se manterem como maioria. E lutavam entre si para dominarem a
totalidade. Maçãs, Ouro ou da Terra iam na cola. Todas coadjuvantes.
Para
comprar sua banana favorita, muitas vezes as pessoas trabalhavam
para empresas da banana concorrente, vejam só. A pessoa podia trabalhar
no
transporte de bananas Prata para ter dinheiro para comprar a banana da
Terra ou
a Maçã. Ou para um dia chegar a comer só da Ouro. E não só trabalhavam
diretamente com bananas, mas indiretamente também. Desenvolviam
tecnologia para
acompanhar as vendas de bananas, levantavam recursos humanos para
trabalharem com bananas, onde só os mais preparados eram selecionados.
Era competitivo. Formavam conselhos e fiscalizavam tudo relacionado
a bananas.
A economia, a política, as organizações e até os esportes na ilha giravam em
torno das bananas, já que até estádios eram construidos financiados por poderosos
empresários do ramo bananício.
Os bancos emprestavam dinheiro para quem queria comprar bananas para a
vida toda. garantir o futuro.
A Ilha era uma loucura. Muita competição, corrupção e disputas afim de
manter-se a supremacia e o monopólio da banana.
Se diziam uma democracia, mas para quem olhava de fora, ou não
participava, era a república da banana.
.
.
.
No meio de tudo isso e apesar de serem a minoria e estarem convivendo na
mesma ilha, havia pessoas que conheciam e comiam muitas outras frutas.
Morangos, Uvas, Mexericas, Mangas, Laranjas, Limões e Acerolas. Jabuticabas,
Kiwis, Carambolas, Caquis, Mamões, Maracujás, Pêras, Maçãs, Melões, Pêssegos,
Melancias, Abacaxis, Pitangas e até Cambucis, entre centenas de outras.
Essas pessoas tentavam dizer e mostrar às outras que haviam essas outras
frutas deliciosas. Milhares de sabores diferentes. Azedos e amargos, tantos
doces e néctares diferentes, cítricas ou polpudas. Cores e nutrientes
diferentes. Trocavam frutas entre si, conversavam e estudavam todas as frutas.
Mas essas pessoas eram pouco ouvidas. A maioria da população ainda estava a comer e defender essa ou aquela banana. Nas escolas, estudos de bananas. E elas realmente eram as maiores geradores de empregos. Alguns professores até falavam das outras frutas, mas a Cultura da banana estava fortemente enraizada na população da ilha.
Nascia-se, crescia-se e perpetuava-se
a cultura da banana.
À margem de tudo isso, viviam suas vidas comendo sua grande diversificação de frutas diferentes, aprendendo sobre outras, ampliando seu cardápio e sempre mostrando a todos que quisessem experimentar. Podia-se falar de outras frutas e viver a vida comendo e trabalhando com elas. Criando receitas diversas, pessoas viajavam para outras ilhas procurando por outras frutas, por novas experiências e sabores. Quem gostava de morangos podia se dedicar a trabalhar com eles. Deliciosas e coloridas saladas de frutas eram criadas, numa mistura enriquecedora de receitas.
Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que um governo autoritário baniu a liberdade de se comer outras frutas. Era a ditadura da banana. E foi difícil para quem gostava de outras frutas. Pessoas eram presas, torturadas e até mortas se pegas consumindo ou até falando sobre outras frutas.
À margem de tudo isso, viviam suas vidas comendo sua grande diversificação de frutas diferentes, aprendendo sobre outras, ampliando seu cardápio e sempre mostrando a todos que quisessem experimentar. Podia-se falar de outras frutas e viver a vida comendo e trabalhando com elas. Criando receitas diversas, pessoas viajavam para outras ilhas procurando por outras frutas, por novas experiências e sabores. Quem gostava de morangos podia se dedicar a trabalhar com eles. Deliciosas e coloridas saladas de frutas eram criadas, numa mistura enriquecedora de receitas.
Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que um governo autoritário baniu a liberdade de se comer outras frutas. Era a ditadura da banana. E foi difícil para quem gostava de outras frutas. Pessoas eram presas, torturadas e até mortas se pegas consumindo ou até falando sobre outras frutas.
Aos
poucos, toda essa bagunça econômica e cultural da banana foi-se desgastando.
Devido a tantas brigas pela supremacia da banana, a busca pelo controle total
das do tipo Prata e Nanica e as da Terra, Maçã e Ouro tentando entrar na onda.
Os preços desequilibraram, elevando-se absurdamente. Inflações e impostos.
Empresas de banana deviam aos bancos, fechavam e geravam desempregos recordes.
Com o desemprego e o alto preço das bananas, as pessoas não conseguiam
comprá-las. Falências aos montes. Represas secavam. Todos os olhos eram
voltados para as bananas. Nunca para outras frutas nem o meio ambiente, a terra
e suas fontes de energia. Por fim, o colapso foi inevitável. Pânico.
.
.
.
.
.
.
Com isso,
as pessoas foram forçadas a encontrarem saídas e soluções. Começaram aos poucos
a perceber as outras frutas. Seus sabores e infinitos benefícios.
Logo,
começaram a plantar em seus quintais as mais variadas espécies e transformar suas garagens em quitandas.
Quem plantava e vendia uvas comprava abacates ou mangas dos vizinhos. Quem
plantava goiaba também comia peras e melancias. Não precisavam mais atravessar
a cidade para trabalhar com bananas. Nem para comprá-las. Não havia
intermediários. Nem donos de grandes monopólios de plantações. O trânsito diminuiu, o tempo
antes gasto com ele e outras atividades bananícias agora eram usados para
estudos de outras frutas, para artes, para lazer, viagens. Um mundo de
descobertas se abria à frente de todos. De oportunidade, igualdade e liberdade de recomeçar.
Claro,
ainda haviam os que insistiram na banana por um tempo. Reconstruir seus impérios. Depois
perceberam que era uma guerra em vão, pois a ilha agora já compartilhava de todas
as frutas. Era necessário recomeçar, necessário reeducar-se.
Outros poucos
partiram para outras ilhas, tentar reinar onde a banana ainda reinava.
A
saúde
de todos se fortificou, assim como o coletivismo. Havia trabalho para
todos, já
que haviam centenas de frutas diferentes e muitos tipos diferentes entre
elas. Muitas formas de manuseá-las, de experimentar receitas.
O
passado
parecia remoto agora. História. Mas olhando para trás, incrível como
não percebíamos o que estavam fazendo. Uma insana obsessão por bananas
enquanto um imenso pomar multi-colorido, multi-sensitivo estava bem
debaixo dos nossos pés.
Agora na ilha, a cada mês festividades com as frutas da época;
Há excursões
para conhecer frutas exóticas de outras terras;
Há pomares coletivos por todo
lugar;
A água é cuidada com carinho, pois é a principal fonte de alimento de
todas as frutas;
Os restos das frutas são usados como combustível, eternamente renovável e limpo. E como alimento para outros animais.
Toda a ilha tornou-se muito fértil, já que as cascas das
frutas, ao morrerem e apodrecerem se tornam também os próprios adubos e alimentos de suas terras e árvores.
A morte alimentando a vida num ciclo sem fim.
Pois muitas vezes, para algo nascer, outra tem que morrer. Seja uma fruta ou uma consciência.
A fauna e a flora
resplandeceram.
E há cores brilhantes e músicas ecoando por toda a ilha.
Smsj